Efeitos da participação das crianças no bem estar comunitário. Um estudo de caso numa comunidade rural "Até tenho medo de ser adulta. É só trabalhar, trabalho, é só preocupações"

Abstract

As desigualdades socioeconómicas afetam de forma desproporcional alguns grupos vulnerabilizados de que fazem parte as crianças (Madeira, 2015; Sarmento, 2004). Daqui resulta que, às crianças, esteja reservado um lugar mínimo nas questões de Participação, oque por sua vez só retroalimenta as desigualdades que mais as afetam. Esta exclusão está profundamente relacionada com as relações verticais de poder que se estabelecem entre adultos, crianças e as representações que cada grupo faz do outro (Chácon,2013).A implicação das próprias crianças no desmantelamento destas estruturas é essencial e urgente, uma vez que é na medida que se criam espaços de participação que se vão desafiando os preconceitos que ainda hoje aprisionam a infância. Apesar das dificuldades envolvidas nestes processos, são várias as investigações científicas que corroboram a ideia deque, uma maior e mais adequada participação das crianças e dos jovens tem benefícios não só para eles, mas também para os adultos e contexto que os envolve (Cortesão & Jesus, 2022;Taylor & Percy-Smith, 2008).Por sua vez, as Comunidades, são lugares privilegiados de intervenção, não só pela proximidade das pessoas a este elemento, mas porque, o processo comunitário é multidimensional e multidirecional, o que permite uma maior abrangência de problemáticas e indivíduos (Ornelas, 1997).A presente investigação pretende explorar as relações que existem entre Comunidade e Participação e tentar compreender como é que elas se podem ajudar. Para isso, far-se-á um enquadramento teórico que servirá como base à investigação no terreno. Esta por seu lado pretende descobrir de que forma é que as comunidades moldam as infâncias e ao mesmo tempo qual é o potencial das crianças na transformação das comunidades. Deste cruzamento entre teoria e investigação deverá resultar uma proposta de intervenção, que, preocupada comas desigualdades que afetam as crianças, procurará atuar sobre elas, estimulando uma verdadeira participação.

Socioeconomic inequalities disproportionately affect vulnerable groups, which include children (Madeira, 2015; Sarmento, 2004). This results in very little space being given to children in matters of participation. Consequently, this only feeds the vicious circle of inequality that affects them. The mentioned exclusion is profoundly related to the vertical relation of power held among adults and children, and in between the representation each group has of the other ( Chácon, 2015; Sarmento, 2004). Implicating children in this process of dismantling this structures of power is very much needed and urgent, because, by doing so, we can, more effectively challenge the preconceived notions of childhood that have brought us here. Although a very complex process, giving more space for children and youngsters to participate, has been shown to bring great benefits for all involved ( Cortesão & Jesus, 2022; Taylor & Percy-Smith, 2008). Communities, in turn, are privileged places of intervention, not only because it provides easy access to individuals, but also due to the fact that the community process is multidimensional and multidirectional, which allows for an approach that ecncompasses a wide range of issues and actors ( Ornelas, 1997). The present investigation intends to explore the established relationships between Community and Participation, and simultaneously trying to understand how they can inform each other. In this sense, we will present a theoretical framework that serves as a backdrop for the field work. The latter, in turn, intends to discover how communities shape help shape Childhood (as a category), and at the same time what is the potential for children in transforming communities. The intersection between theory and field work, should result in an intervention proposal, which, concerned with the inequalities experienced by children, will seek to act on them, stimulating true participation.